segunda-feira, 2 de março de 2020

Primeiras Porradas

Primeiras porradas

Voltando para me explicar melhor. Houve quem questionasse porque eu me acho uma "caixa de pancada" se confesso até que sou bem sucedido. E não me proponho mais choradeira, mágoas e reclamações, evito-as sempre que possível, até que já tenha deletado todas elas definitivamente.
Eu quero comentar, com bom humor e sem maiores pretensões, as porradas que levei ao longo desses 75 anos, quase todas por minha culpa. As vezes por querer ser sabido demais, outras por manifestar intenção de boa-fé e algumas por mera ingenuidade.
Acreditando nas pessoas, aceitava propostas, convites, vantagens e os cambaos. A que me lembro como pioneira, foi quando com apenas sete anos de idade, no primeiro ano da escola, aquele menino que sonhava com coisas interessantes, indo ao Trapiche de Baixo na casa da minha avó Fausta, quando passava pela rua do Imperador, invejei o filho do prefeito pilotando um automóvel de brinquedo. Tinha dois colegas que moravam lá, mas estudavam na Escola Dr. Bião, onde a mãe deles era professora. E perguntei se eles conheciam Nabuco, se brincava com o carro dele etc. Os dois, autênticos capadócios desde aquela época, no outro dia inventaram que tinha uma rifa de um carrão daqueles, que os bilhetes eram quinhentos reis e que se eu comprasse o ganharia. Para mim era um dinheirão, mas para eles talvez desse pra comprar um lanche. Implorei a minha mãe e ela me deu o dinheiro e logo passei para os espertos. E daí em diante todo dia era aquela enrolada, que a rifa ainda não correu, e eles riam e me gozavam com os outros colegas, todos da mesma idade, mas nenhum otário que nem eu.
Mas porrada mesmo, de verdade, de doer nas mãos e nos braços, levei quando estava no quarto ano. Apesar de ser considerado "inteligente", era realmente um boboca, e de tudo ria e não me controlava as vezes, e parecia que era indisciplina ou desrespeito à professora. Amândio era meu colega de sala e sentava com ele na frente, numa daquelas dadeiras duplas. Quando a professora estava no quadro explicando a aula, ele ficava me sacaneando, quando ela virava, me pegava revidando e o sacana ficava sério e eu que levava o castigo, indo para a frente e de pé; de lá o fdp fazia caretas e palhaçada que me fazia rir mais ainda; ai o castigo já era com reguada nos braços; mesmo apanhando o cara fazia mais palhaçada e eu apanhava mais e mais, e ele mantinha-se sério. Isso se repetia todos os dias e até o final do ano letivo.
Como se vê, as porradas que lembrei até agora não foram nenhum trauma, e conto com a maior satisfação, como boas recordações.